Em entrevista ao Programa do Jô, na madrugada desta sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff advertiu que só com mais dinheiro será possível melhorar a “frágil gestão” do sistema de saúde do país. A declaração ocorre em meio ao debate dentro do próprio governo sobre o retorno da CPMF, o imposto do cheque, derrubada pelo Congresso Nacional em 2007. A entrevista foi concedida na tarde desta sexta-feira, e gravada no Palácio da Alvorada.
- Acredito que precisamos de um esforço na gestão hospitalar. Nós temos uma gestão bastante frágil. Mas é preciso de mais dinheiro, precisa. Sem dinheiro, ninguém faz.
A presidente, no entanto, não citou nenhuma alternativa para elevar o dinheiro disponível para o setor, nem mesmo o retorno da CPMF.
Dilma afirmou ainda que, embora necessite de um ajuste fiscal para equilibrar as contas públicas, o Brasil não está “estruturalmente doente”. Ela disse que o país passa momentaneamente por “problemas e dificuldades”, e o ajuste é necessário para uma rápida retomada do crescimento econômico. Dilma declarou estar “bastante agoniada” com a inflação.
A presidente ainda respondeu sobre os 38 ministérios de seu governo, e admitiu que o número é alto demais.
- Vou dizer: criticam muito porque temos muitos ministérios. Eu acho que teremos de ter menos ministérios no futuro.
Questionada por Jô sobre o Ministério da Pesca, respondeu:
- Se você tiver a Pesca com a Agricultura, acho até que no futuro você poderá ter uma situação assim.
Em outro trecho, a presidente admitiu que se sente “triste” com as críticas que recebe, mas disse que aprendeu a conviver com a situação.
- É todo dia. Tem horas que exageram um pouco. Pegam pesado. Mas é da atividade pública – disse a presidente, ponderando sem seguida:
-
Eu tenho de aceitar que as pessoas não gostem do que eu faço. Tenho de aceitar. Eu não levo no pessoal. Agora, se você quer saber se eu fico triste? Fico, sim. Em algumas horas, eu fico bastante triste. Porque é aquele negócio: ninguém é de ferro – completou (veja aqui a íntegra da entrevista).
Em outro trecho, Jô perguntou se a presidente é uma pessoa de pavio curto:
- Eu quero dizer que eu tenho uma imensa capacidade de resistir. Aprendi isso ao longo da minha vida. Me prenderam e eu aprendi. Me botaram na cadeia e eu aprendi a resistir, a ter tranquilidade para você aguentar, sabendo que uma hora passa. Agora, eu acho que sou uma mulher dura no meio de homens meigos. Os homens são meigos e as mulheres, duras. Eu sou dura porque não posso ser uma presidente mole – afirmou.
Sobre a escolha do vice-presidente Michel Temer para assumir a articulação polícia do governo, em meio à crise com os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a presidente elogiou o peemedebista:
- Eu acho o Temer, um grande parlamentar. Ele é extremamente hábil. Ele é um ótimo articulador político.
Sobre o ajuste fiscal, Dilma afirmou que o controle das contas públicas não pode deixar em segundo plano os investimentos sociais e em infraestrutura. Ela reconheceu a necessidade de ainda fazer correções nas políticas públicas do governo.
- Tem muito que mudar. Acho que não está perfeito.
Esta é a segunda vez que Dilma participa do programa. Em 2008, quando era ministra da Casa Civil, Dilma foi entrevistada pelo apresentador.
Foram 70 minutos de entrevista. A presidente estava bem humorada, mas evitou responder a comentários mais provocativos. Quando Jô disse que, com aliados como os que o governo tem, ela não precisaria de oposição, Dilma não respondeu. Apenas riu. A entrevista abordou temas como a situação da Petrobras, saúde, educação, base aliada e alianças políticas.
Os três blocos do programa foram dedicados à conversa com a presidente. A entrevista foi combinada no último dia 18 de maio, quando Dilma recebeu Jô no Palácio do Planalto.