O Banco Central (BC) tem evitado que o significativo aumento da inflação deste ano contamine as expectativas, mas isso ainda não é suficiente, afirmou o diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos da instituição, Tony Volpon, em apresentação a investidores em Londres.
“Apesar da inflação bem mais alta deste ano, que esperamos que feche ao redor de 8%, as expectativas de inflação em 2016 recuaram para a faixa de 5,5% e as expectativas para depois de 2016 estão na meta ou perto dela”, destacou Volpon, segundo apresentação em inglês disponível no site do BC. “Apesar desse importante feito, isso não é bom o suficiente. O compromisso do BC é ter a inflação em 4,5%, não 5,5%.”
Volpon acrescentou que um dos motivos que fazem com que alcançar a meta no fim de 2016 seja factível é “a profunda mudança no regime fiscal que se está vendo no Brasil hoje”. Ele citou também que há outros choques que afetam a economia brasileira que apontam na direção desinflacionária. “O ajuste de preços regulados, por exemplo, leva inicialmente a uma inflação mais alta, mas ao longo do tempo o fato de que isso reduz a renda disponível pode ajudar a reduzir a inflação.”
O diretor do BC observou ainda que qualquer discussão sobre alívio monetário deve levar em conta também a convergência das expectativas de inflação do mercado à meta em horizontes futuros.
Segundo ele, essa condição é importante porque somente se as expectativas de inflação estiverem bem ancoradas é que qualquer ciclo futuro de alívio monetário permitirá que juros mais baixos afetem positivamente a atividade “sem deterioração permanente da dinâmica inflacionária”.
“Isto é, iniciar uma acomodação da política [monetária] sem expectativas bem ancoradas pode se mostrar insustentável”, levando a um regime de vai e volta, acrescentou Volpon, de acordo com apresentação. “O objetivo final da política não é apenas levar a inflação à meta em uma data particular; é induzir um estado inflacionário ao redor da meta, com apenas desvios ao redor desse nível em resposta a choques exógenos. Para isso acontecer, as expectativas de inflação em horizontes futuros precisam estar ancoradas na meta.”
Em outro momento da apresentação, ao falar sobre a situação fiscal do Brasil, Volpon destacou que é preciso gerar superávits primários suficientemente altos para colocar os indicadores da dívida em um caminho que justifique o grau de investimento. “Levar o resultado primário de um déficit de 0,6% em 2014 para o superávit planejado de 1,2% em 2015 e 2% em 2016 terá um impulso desinflacionário muito forte sobre a economia”, disse. “De fato, as despesas do Tesouro já declinaram substancialmente.”