Construtoras de médio porte começam a se organizar em grupos para ganhar força na disputa dos próximos leilões de estradas, ferrovias e aeroportos, um espaço dominado pelas grandes empreiteiras agora fragilizadas pela Operação Lava Jato.
Essas empresas estão acostumadas a fazer estradas, pontes e hospitais para governos estaduais e prefeituras. Para entrar nas concessões federais, maiores e mais caras, pressionam o governo para conseguir mudanças no formato das licitações que devem ser lançadas no dia 9.
As principais são: divisão dos projetos em lotes menores e mudanças no tipo de garantias exigidas para participar dos leilões. Sem isso, argumentam, as disputas continuarão concentradas nas maiores do setor.
Um dos grupos que já está formado é liderado pelo empresário Carlos Zveibil Neto. São seis construtoras de médio porte que se reúnem toda sexta-feira para estudar projetos de concessão. A maior delas, a Planova, fatura R$ 250 milhões por ano. A receita das seis soma R$1,2 bilhão.
Eles já ganharam uma concessão da prefeitura de Belo Horizonte (MG) para construir e explorar a nova rodoviária da cidade, investimento de R$ 90 milhões. “No pacote do governo, estamos interessados nas estradas”, afirma Zveibil.
“Há várias empresas negociando parcerias. Mas os acordos só podem ser fechados quando o governo mostrar o que vai licitar e quais serão as regras”, diz Luciano Amadio, presidente da Apeop (Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas).
A construtora de Amadio, a CVS, discute com outras quatro uma associação para disputar concessões de portos, quando elas vierem. Ele não quer identificar os possíveis parceiros, mas diz que o faturamento dos cinco soma R$ 1 bilhão –3% da receita da empreiteira do grupo Odebrecht, a maior do país.
Nos certames anteriores, mais da metade das concessões de rodovias e aeroportos foram arrematadas pelas grandes empreiteiras, hoje investigadas pela Polícia Federal na Lava jato.
Fora Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, que são as maiores, há dúvidas sobre a presença das outras grandes nas próximas licitações. Várias estão vendendo patrimônio para pagar dívidas (leia texto abaixo).
“Ninguém queria que fosse assim, mas nem todas as grandes estão em condições para novos investimentos. Se o governo der condições, as médias podem ocupar parte do espaço”, diz Carlos Eduardo Lima Jorge, presidente da comissão de infraestrutura da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção).
LOBBY
O trabalho de lobby junto ao governo vem sendo feito pela CBIC e pela Apeop. Em abril, organizaram um seminário em Brasília para mostrar como são as concessões em outros países. O evento foi feito na capital para mostrar força e para facilitar a presença de gente do governo.
Depois, passaram a se encontrar com técnicos e autoridades dos Ministérios do Planejamento e da Casa Civil, para discutir mudanças nas licitações sugeridas pela consultoria GO Associados, contratada para a assessorá-las.
Sabem que a proposta de dividir os empreendimentos em trechos menores não se aplica a todos os projetos, mas defendem que seria possível fatiar estradas e ferrovias em três lotes ou mais.
Insistem ainda na mudança das garantias exigidas nas licitações.
Em vez de empenhar o patrimônio das empresas e dos sócios, querem dar como garantia a própria receita do projeto licitado pelo governo.
AF