O empresário da Toyo Setal e delator da Operação Lava Jato, Júlio Camargo, disse ao juiz Sergio Moro nesta quinta-feira (16) que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pediu propina de US$ 5 milhões em um contrato de navios-sonda da Petrobras.
No depoimento, prestado em Curitiba, Camargo disse que o pedido de propina teria ocorrido pessoalmente, em uma reunião no Rio.
É a primeira vez que Camargo, cujo acordo de delação premiada foi homologado em dezembro do ano passado, cita Eduardo Cunha como destinatário da propina.
A informação foi antecipada pelo jornal “O Globo” na tarde desta quinta.
O nome de Eduardo Cunha surgiu quando o delator respondia ao juiz Sergio Moro se vinha sendo pressionado a pagar propina por Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB em contratos com a Petrobras.
Camargo contou que procurou Baiano para intermediar um encontro com Eduardo Cunha por causa de requerimentos apresentados na Câmara dos Deputados contra ele, Camargo, e contra a empresa Mitsui.
Pelo relato de Camargo, Cunha teria dito que havia um débito “entre você e o Fernando Baiano”, quando então pediu US$ 5 milhões, relativos a um contrato de navios-sonda com a Petrobras.
“Tivemos um encontro o deputado Eduardo Cunha, Fernando Soares e eu. Eu fui bastante apreensivo. O deputado Eduardo Cunha é conhecido como uma pessoa agressiva, mas confesso que comigo foi extremamente amistoso dizendo que ele não tinha nada pessoal contra mim, mas que havia um débito meu com o Fernando do qual ele era merecedor de US$ 5 milhões”, relatou Camargo.
“E que isso [o débito com o operador da propina] estava atrapalhando, porque estava em véspera de campanha, se não me engano era uma campanha municipal, e que ele tinha uma série de compromissos e que eu vinha alongando esse pagamento há bastante tempo e que ele não tinha mais condição de aguardar”, continuou.
O delator quando foi subitamente interrompido pelo juiz Sergio Moro, dizendo que o tema já era objeto de investigação na Procuradoria-Geral da República e que não deviam detalhar o assunto para não prejudicar a apuração em curso em Brasília.
Julio Camargo então contou que procurou o doleiro Alberto Youssef para tentar contornar o problema criado com o deputado peemedebista.
“O Youssef era sempre uma pessoa presente nas minhas operações. Mas foi nesse caso, foi aí que o chamei no caso das sondas porque até então o Fernando Soares indicava as contas nas quais eu devia fazer os depósitos e eu fazia esses depósitos a pedido dele”, disse.
“Quando veio essa emergência, chamei Alberto, uma pessoa com quem eu tinha um relacionamento de dia a dia e confiança, e senão me engano, até pedi o Alberto se ele conhecia o deputado Eduardo Cunha e eu que estava com problema com o deputado Eduardo Cunha”, relatou.
A “emergência”, segundo o delator, era que o pagamento Eduardo Cunha não aceitou que se pagasse apenas a parte dele.
“Me organizei porque o deputado Eduardo Cunha não aceitou que eu pagasse somente a parte dele. Ele me disse: “Olha, Júlio, não aceito que pague só a minha parte. Pode até pagar o Fernando mais dilatado, mas o meu eu preciso rapidamente, mas faço questão de você incluir no acordo ainda aquilo que você falta pagar o Fernando e aí chegou entre US$ 8 a 10 milhões”, disse Camargo.
Uma parte do pagamento da propina ao peemedebista, segundo Camargo, foi feita através do dólar-cabo, uma operação clandestina e ilegal de câmbio e de remessas de recursos.
Segundo Camargo, ele fez depósitos em uma conta de Alberto Youssef no exterior e o doleiro, através de sua empresa GFD Investimentos, repassou reais no Brasil. A operação ajudou Camargo, que estava com problemas de liquidez no país, levantar rapidamente dinheiro vivo para pagar o suborno.
“Eu paguei através de depósitos ao Alberto no exterior, paguei através de operações com a GFD. Parte daqueles recursos foram utilizados para dar liquidez em reais a serem feitos pagos esses pagamentos. Fiz pagamentos diretos as empresas de seu Fernando Soares”, contou.