Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente e terceira candidata à Presidência da República mais votada nas duas últimas eleições – 2010 e 2014 – rompeu o silêncio que mantinha e falou sobre a crise política que assola Brasília desde o início da Operação Lava Jato. Em artigo publicado neste domingo no blog do jornalista Matheus Leitão, Marina Silva defendeu que os políticos que eventualmente sejam denunciados pelo Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF) sejam afastados do cargo, para que não haja o risco de tentativa de interferência nas decisões. O artigo de Marina surge apenas poucos dias após a Polícia Federal obter o aval da Corte para direcionar os holofotes da investigação sobre os políticos, na fase intitulada Politeia.
“Quando as investigações resultarem em provas e denúncias formais ao Supremo Tribunal Federal, devemos exigir o afastamento dos que ocupam cargos cujos poderes possam interferir nas decisões. Mas desde já precisamos estar atentos contra qualquer tentativa de sabotagem.”
A declaração também ocorre pouco depois do vazamento de depoimentos que envolvem o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, na trama. Acusado pelo delator Júlio Camargo de ter cobrado 5 milhões de dólares em propina para facilitar contratos com a Petrobras, o peemedebista anunciou o rompimento com o Governo e tirou da gaveta os pedidos de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff. Em uma crítica direta a Cunha, Marina Silva defendeu que a manutenção das “bases institucionais democráticas que construímos a duras pena”.
“Se a manipulação da crise foi o modo como o presidente da Câmara encontrou para aumentar seu poder, é normal que ele agora tente explicar as denúncias de corrupção que recebe como sendo manipulação dos outros – o Governo, no caso. Não há novidade nisso e boa parte dos que saem gritando ‘fora Cunha’ parecem querer apenas aproveitar a oportunidade de apontar um novo inimigo público para desviar a atenção dos gritos de ‘fora Dilma'”, completou.
Crítica por um lado, elogio de outro
Se por um lado Eduardo Cunha é um dos principais alvos da crítica de Marina Silva, por outro, o peemedebista foi defendido pelo colega de partido Renan Calheiros, presidente do Senado. Em um vídeo de quase 17 minutos publicado na última sexta-feira (17), o senador faz um balanço do primeiro semestre do Legislativo e exalta a boa relação que mantém com o colega.
“Acho que a atuação dele [Cunha], sua independência, colaborou muito para este momento do Congresso Nacional”, afirmou Calheiros.
Assim como Cunha, Calheiros também está na mira das investigações da Lava Jato, à qual ele se esforçou para tentar desqualificar em seu pronunciamento. “[A investigação da Lava Jato] é como um disco arranhado, ventilador repetitivo, sem nenhum fato novo”, acrescentou.
Já ao falar sobre a crise política e econômica que o país atravessa, o presidente do Senado diz esperar por “meses nebulosos” após o recesso parlamentar mas, embora não atue como aliado do Governo, destacou que a “disposição do Congresso Nacional é de colaboração”. O parlamentar, contudo, voltou a criticar o ajuste fiscal do Governo Dilma, a que classificou como “insuficiente e tacanho”, voltando a propor o corte dos ministérios e o enxugamento máquina pública. “É enxugar gelo até ele derreter”.