O movimento pelo impeachment defendido em protestos no Domingo (16/8) esbarra na falta de propostas estruturais para o País e aumenta o clima de incerteza sobre as crises política e econômica, avaliam pesquisadores ouvidos nesta segunda-feira (17/8) pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Marco Antonio Teixeira, cientista político da FGV-SP, afirma que o volume de pessoas nas manifestações não serve para medir a força da rejeição ao governo. Para ele, a participação de parlamentares da oposição no protesto é uma novidade que terá desdobramentos.
“Eles foram bem recebidos. O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) quase posou como candidato a presidente. Isso cria um rumo diferente e aponta para uma maior interlocução desses grupos com integrantes da política institucional.”
Teixeira acredita que essa adesão pode mudar estratégias para uma ação mais conjunta. “Os protestos vão se intensificar, mas não significa que vão ter mais êxito. Tudo vai depender de como o clima político vai se comportar, a decisão do TCU (Tribunal de Contas da União) e o que vai ser analisado no Congresso”, afirmou.
Helcimara de Souza Telles, cientista política da UFMG, contou que uma pesquisa da instituição ontem em Belo Horizonte mostra que o público apoiaria propostas da Agenda Brasil, o pacote de medidas apresentado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), à presidente Dilma Rousseff.
“No que diz respeito ao pagamento do SUS pelos mais ricos, há uma posição favorável. Esse público não demonstrou rejeição. Mas questionamos apenas a opinião sobre as propostas, e eles demonstraram não saber que são programas do governo. Quando souberem, vão ser contrários”, disse. “O antipetismo é mais forte que qualquer variável.”
Para o cientista político Rudá Ricci, só uma deterioração maior da economia do País fará com que a população volte a ir às ruas em peso. “Se a crise econômica aumentar, é provável que a gente tenha uma nova jornada como junho de 2013. Mas uma manifestação não partidarizada.”
Carlos Fico, historiador da UFRJ, avalia que o clima de incerteza ainda é grande. Fico explica que, no impeachment do ex-presidente Fernando Collor, a sensação da derrocada era mais nítida. “Hoje estamos muito longe disso. Até porque não há uma acusação contra a presidente que seja indiscutível e clara”, afirmou.