O ex tesoureiro de Prefeitura de Campina Grande, Renan Trajano, compareceu à Câmara Municipal nesta segunda-feira 21, e na “CPI do Tesoureiro”, confirmou as denúncias de desvio de dinheiro na gestão de Veneziano Vital do Rego, pessoa que, segundo ele, comandava toda operação.
Renan, que já tinha feito denúncias neste sentido ao Ministério Público Federal e ao jornal Folha de São Paulo, entregou documentos, apontou nomes e respondeu a uma série de perguntas formuladas pelos membros da CPI, especialmente, ao secretário da Comissão, vereador Alexandre Pereira.
Renan confirmou que além de Veneziano e Vital, os ex-secretários Júlio César Câmara (Finanças), Alex Azevedo (Obras/Desenvolvimento Econômico) e Alexandre Almeida (Obras) operavam os desvios de recursos na Prefeitura. Recursos estes, segundo Renan, custearam todas as campanhas em que os “Rego” se meteram desde 2004.
O ex tesoureiro revelou detalhes das operações envolvendo a Construtora JGR, que seriam mera repassadora de recursos recebidos por obras não executadas, para os acusados. Ele revelou que muitas ruas construídas em entornos de cojuntos habitacionais eram pavimentadas pelas empresas responsáveis, recursos de condomínios privados. Mas essas obras acabaram sendo pagas à PGR pela Prefeitura, como se ela fosse a autora.
Outras ruas pavimentadas pela Compec, foram pagas em duplicidades, beneficiando a JGR, empresa que levou milhões da Prefeitura, sem ter endereço ou funcionários, que em 15 dias contabilizou 4,5 milhões em ruas pavimentadas.
A CPI já dispõe de declarações de empresas que provam a fraude cometida pelos acusados. Renan Trajano também entregou à Comissão de uma relação com cheques emitidos pela Prefeitura, na gestão de Veneziano, pré-datados, fato que havia sido negado pelo ex-secretário de Finanças da Prefeitura, Júlio Cesar Cabral, em declarações à própria CPI.
Ao dizer que o dinheiro desviado financiou quatro campanhas do grupo político que dominava a Prefeitura, Renan Trajano foi aparteado por João Dantas, que presidia os trabalhos:
- Quatro não, cinco. Todos sabem que a campanha do senhor Júlio Cesar Cabral, em Galante, também foi irrigada desta forma”, acentuou.
O presidente da CPI disse que serão intimados a depor outros ex-secretários da gestão de Veneziano e que a comissão continuará se reunindo às segundas-feiras, porém, poderá fazê-lo extraordinariamente, caso surjam motivos que justifiquem a quebra de calendário.
Trajano admite que a corrupção atingia vários órgãos da Prefeitura de Campina Grande
Ao depor na segunda-feira na CPI do Tesoureiro, popularmente conhecida como a “CPI do Lava Rego”, Renan Trajano, o delator do esquema de desvio de recursos na administração do ex-prefeito Veneziano Vital do Rego, embora não detalhasse mais profundamente a questão, admitiu que o esquema de corrupção atingia outros órgãos municiais.
A uma pergunta do presidente da Comissão, vereador João Dantas, se era do seu conhecimento a metástase da corrupção atingindo outros órgãos municipais, para financiar o projeto de poder dos irmãos “Rego”, Renan respondeu que tinha conhecimento de rumores envolvendo algumas secretarias, como a de Saúde, mas citou apenas o caso no Procon Municipal.
Segundo ele, deste órgão foram retirados R$ 500 mil, do Centro de Direitos Difusos, para a Secretaria de Finanças, mas que nunca mais foram devolvidos. Para justificar a “operação ilegal” junto a um questionamento do Tribunal de Contas, o então prefeito alegou que era para a construção de uma sede própria do Procon, obra que nunca ganharia corpo de materialidade.
Veneziano Vital do Rego, ex-prefeito de Campina Grande e hoje deputado federal, responde a dezenas de inquéritos nos tribunais superiores, em acusações que vão desde improbidade administrativa, formação de quadrilha a crimes eleitorais. Alguns deles encontram-se conclusos no Supremo Tribunal Federal, para onde foram, depois que eleito deputado, o ex-prefeito ganhou direito a foro privilegiado.