“Era uma pessoa igual a cem mil outras pessoas”, esse trecho da obra do Pequeno Príncipe, do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry retrata a atual realidade de Paulo Tiago, Kaio e Wesley. Quando criança, eles sonhavam em ser veterinário, astronauta, artista, mas foram encorajados por adultos à sua volta e se tornaram “os meninos da robótica” e exemplo no que fazem.
Em julho deste ano, a equipe “Robô Apolo” da Escola Municipal Apolônio Sales formada por alunos da rede municipal de ensino de João Pessoa conquistou o primeiro lugar na XIX Copa do Mundo de Robótica, a RoboCup. Concorrendo com 14 equipes de vários países, a vitória ocorreu na categoria RoboCupJr Dance Primary” (dança com robô). No entanto, o grupo vem conquistando campeonatos regionais e locais.
A ida à China foi resultado de um trabalho da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP), por meio da Secretaria de Educação e Cultura (Sedec), intensificado em 2013 em prol da universalização da tecnologia educacional. Atualmente, todas as 95 escolas municipais pessoenses fazem uso de kits de robótica que incluem os componentes de montagem de robôs, software amigável, material paradidático e capacitação de monitores, atingindo mais de 50 mil alunos.
Emprego – Além de medalhas e troféus, esses garotos conquistaram uma vaga de estágio naempresa nacional de tecnologia em robótica, Pete. “Esses meninos estão convivendo com o mundo da robótica há alguns anos e se tornaram os melhores no que fazem. Eles conhecem o produto, já são profissionais qualificados e acima de tudo são apaixonados pelo o que fazem e com isso podem motivar os outros. Tudo isto para empresa é ótimo”, disse José Pacheco, diretor da Pete.
Pacheco ressaltou ainda que a educação é o agente de mudança social. “Acho muito natural esses meninos, de origem humilde, estarem com ambições. Eles estão começando a colher os frutos que semearam. A educação propicia isso. Na nossa empresa estimulamos a educação, estudar é uma coisa constante. O objetivo deles não tem que ser a empresa e sim o futuro profissional através do ensino, por isso sempre os levamos nas universidades. Esperamos contaminá-los com isso”, completou. A Pete é uma empresa de São Paulo que surgiu nas universidades e tem como objetivo criar tecnologia para educação.
A robótica os levaram à lugares distantes
Aos sete anos, Paulo Tiago Ribeiro ainda não sabia ler nem escrever, mas o amor da sua avó adotiva o fez perseverar nos estudos. Apaixonado por física, química e matemática, o garoto se descobriu na robótica. “O estudo é a base de tudo, sem estudo não chegaremos a lugar nenhum nos dias de hoje. A robótica abriu minha visão, farei de tudo para entrar em engenharia eletrônica e mecatrônica”, afirmou Paulo.
A robótica levou Paulo a lugares distantes, como a China, Fortaleza e São Paulo. “Eu nem acreditei quando eu soube que ia para China, falei sou eu mesmo?! Hoje, posso dizer aos alunos que estão começando agora nessa carreira de robótica que eles conseguem, independe das lutas, a vitória no final é certa, é só batalhar. Não sou melhor do que ninguém, mas com o incentivo e motivação podemos mudar essa juventude”, disse.
Sua avó, Terezinha Irineu da Silva comemora hoje o fruto que plantou e regou. “Sou do interior e sempre tive vontade de estudar, mas não tinha como porque era preciso trabalhar. Quando peguei Tiago para criar, ele me perguntava como era que se lia e aquela perguntava doía na minha alma, porque eu não sabia, mas nunca desisti de fazê-lo aprender. Hoje, sinto um orgulho muito grande vê-lo nesse caminho, pois sempre mostrei a ele o lado ruim e o lado bom das coisas e o estudo sempre foi o melhor caminho”, declarou.
Com muito orgulho, dona Terezinha diz que “Tenho feito o impossível para ele continuar se aperfeiçoando, amanhã ele será um grande homem. Imagina você sair de casa e deixar uma máquina fazendo tudo pra você! No futuro será assim e meu neto será o cientista que desenvolverá tudo isso”, disse emocionada. “Thiago é obediente em todos os lugares, em casa, na escola, na igreja. Se eu ainda pudesse, criaria mais crianças para elas se tornarem homens de bem, como Tiago se tornou. Minha vida está realizada”, completou.
Mais conquistas – Assim como Paulo Tiago, Kaio Victor da Silva Cunha, 17 anos, comemora as novas conquistas. “A robótica foi o grande divisor de águas na minha vida. Eu tinha um sonho de ser veterinário, mas hoje, esse sonho morreu e a robótica me mostrou pra onde eu quero ir, e esse caminho é a engenharia mecânica. Ir à China foi uma oportunidade única e a Pete é só um trampolim que me ensinará como trabalhar com robótica e dará todo o alicerce para meu futuro”, disse o jovem. Se continuar com esse pensamento, ele será o primeiro a se formar em um curso superior em sua família.
Já Wesley Robson Carneiro, 16 anos, tinha planos de viajar para fora do país, mas nunca havia passado por essa experiência. “Depois da China, recebi o convite de trabalhar na Pete. Trabalhar em uma empresa do tamanho da Pete é muito importante para o meu currículo e é um suporte para minha carreira. Certamente, será um grande avanço para o meu futuro o qual eu quero trabalhar com robótica e mecatrônica”, afirmou. Atualmente, o jovem estagia auxiliando outros estudantes com programação e montagem de robôs.