Dez anos após a morte da missionária americana Dorothy Stang, o Ministério Público Federal no Pará apura se a disputa por um lote de terras públicas está por trás da recente série de assassinatos em Anapu, cidade em que a americana foi executada a tiros em fevereiro de 2005. Um inquérito foi aberto nesta segunda-feira para investigar a ação de pistoleiros no local. Nesta terça, o procurador Felício Pontes Jr, responsável pela apuração, participa de uma reunião em Brasília em que pede o deslocamento de equipes de investigação para Anapu para tentar elucidar os crimes. Entre os meses de julho e outubro, sete pessoas foram mortas na cidade: todas executadas por assassinos que usavam carapuças ou capacetes.
O MP decidiu abrir o inquérito depois de receber uma carta da Comissão Pastoral da Terra denunciando os crimes. No documento, a entidade afirma que as mortes estão ligadas a Regivaldo Pereira Galvão, conhecido como Taradão. Galvão foi condenado a 30 anos de prisão pela morte de Dorothy, mas há três anos o Supremo Tribunal Federal concedeu um habeas corpus para que o fazendeiro recorra em liberdade. Segundo a CPT, os crimes ocorreram em meio a disputas pelo lote de terra 83 – uma área pública disputada por posseiros e grileiros e que é conhecida na região como “Fazenda do Taradão”.
A pastoral informou à Procuradoria que um grupo de homens armados trafega pelas estradas da cidade em caminhonetes portando armas e ameaçando os pequenos agricultores e posseiros que vivem na região do lote. “Inaceitável a falta de diligências, a conivência ou inação”, escreve a entidade no documento, em que critica as autoridades da região por ignorar a escalada da criminalidade na cidade. Ainda segundo a carta, há outros trinta nomes de moradores locais “marcados para morrer”.
Todas as mortes ocorreram na área urbana da cidade, e por isso são investigadas como fruto da violência urbana. Mas a CPT afirma que a ação é uma estratégia para desviar a atenção dos crimes – e que pelo menos cinco assassinatos estão diretamente relacionados ao lote 83, de acordo com o Ministério Público.
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