A possibilidade de o governo autorizar uma operação financeira para salvar a Petrobras, indicada pela presidente Dilma Rousseff na semana passada, e a queda no preço do petróleo no mercado internacional levaram as ações da empresa a atingirem, na segunda-feira (18), as piores cotações desde novembro de 2003. Os papéis preferenciais caíram 7,16%, fechando o dia valendo R$ 4,80. As ações ordinárias caíram 6,11% e fecharam em R$ 6,30.
Desde o início do ano, as quedas acumuladas nas ações da estatal são de, respectivamente, 28,4% e 26,5%. Já o Ibovespa, principal índice da Bolsa, caiu 1,64% nesta segunda-feira e 12,5% no ano. Obarril de petróleo Brent fechou em US$ 28,68. Em meados de 2014, quando iniciou a trajetória de queda, a cotação estava acima de US$ 110.
Considerando seu valor de mercado – ou seja, quanto vale a companhia de acordo com a cotação das ações na bolsa – a Petrobras está valendo, em dólares, “apenas” US$ 19,5 bilhões, segundo levantamento da consultoria Economática. O valor corresponde a apenas 6% do que vale a americana Exxon em bolsa, US$ 323 bilhões, ou 12,5% do que vale a Chevron, US$ 157 bilhões. Em 2010, A Petrobras valia 62% da Exxon e 124% da Chevron.
Na última sexta-feira, em entrevista coletiva a jornalistas em Brasília, Dilma afirmara que, “em função do cenário nacional e internacional” poderia avaliar a possibilidade de capitalizar a empresa, “se o processo [a queda no preço do barril] continuar”, explicando que “petróleo a níveis menores é sempre preocupante”.
A forma de capitalizar a Petrobras seria por meio de emissão de novas ações. É uma operação que depende essencialmente da participação dos acionistas, a quem as novas ações são inicialmente oferecidas. Quem não compra seu quinhão na emissão acaba ficando com uma fatia menor. Assim, para que a União não fique menor, o Tesouro teria de necessariamente comprar seu lote de novos papéis – o que suscita a dúvida sobre de onde o governo tiraria dinheiro.
O assunto foi analisado pela equipe econômica, mas acabou descartado justamente porque, em tempos de crise e ajuste fiscal, não há recursos. Além disso, diante do noticiário sobre a corrupção na empresa, dificilmente acionistas minoritários topariam injetar mais dinheiro. Por estes motivos, a capitalização não é bem vista pelo mercado, e as ações acabam caindo.
Além disso, a possibilidade de o petróleo seguir em sua trajetória de queda livre – e, com isso, puxar a Petrobras – é real e, por isso, também ajuda a derrubar as cotações. Ao longo de 2015, a cotação caiu fortemente principalmente porque a Arábia Saudita, ex-maior produtor do mundo, capaz de extrair óleo a um dos custos mais baixos do planeta, decidiu elevar sua produção de óleo. O objetivo é atingir os Estados Unidos, país que a desbancou do ranking de maior produtor de óleo do planeta em 2014, na esteira da produção crescente de “tight oil”, nos últimos cinco anos.
Por estar em reservatórios de acesso mais difícil, o “tight oil” tem um custo de produção bastante elevado, e muitas dessas reservas já estão se tornando inviáveis economicamente devido à queda no preço do óleo no mundo.
Para completar o cenário, Estados Unidos e países da União Europeia retiraram sanções econômicas ao Irã, que vigoraram desde 2011, em resposta ao programa nuclear iraniano. “O Irã já elevou sua produção de 500 mil para 900 mil barris por dia desde julho, e indicou que pode subir mais, a 2,5 milhões de barris, o que ajuda a derrubar a cotação do óleo no mundo”, diz Flávio Conde, sócio da consultoria Whatscall.
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