Os pesquisadores do Laboratório Nacional de Biociência (LNB), em Campinas (SP), identificaram pela primeira vez a “impressão digital” do vírus da zika. A descoberta poderá ajudar no desenvolvimento de medicamentos para combater a doença.
As amostras para a pesquisa do vírus da zika foram fornecidas de pacientes infectados em Pernambuco pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro (RJ). Os estudos, que acontecem desde novembro, envolvem 20 pesquisadores e fazem parte da força-tarefa nacional determinada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia contra as doenças relacionadas ao Aedes aegypti.
A importância dessa pesquisa é que com ela você pode desenvolver moléculas que possam interferir na ação do vírus no corpo humano”
Kléber Franchini, diretor
Proteínas
A partir do mapeamento genético do vírus, que já havia sido feito pela Fiocruz, os pesquisadores avançaram e visualizaram a estrutura molecular do vírus da zika para tentar entender como eram os mecanismos da infecção e como ele interagia com as células humanas.
Com o estudo, os pesquisadores descobriram que o vírus da zika tem uma camada externa, também chamada de envelope, que é formada por um conjunto de proteínas que se agrupam na superfície ganhando uma forma esférica. É aí que fica a impressão digital do vírus.
É o pedaço de uma destas proteínas que entra em contato com as células do nosso organismo e elas reconhecem e identificam o vírus. O sistema imunológico lê esta assinatura e cria anticorpos contra ele.
Comparação
As estruturas das proteínas foram comparadas com as dos vírus da dengue, febre amarela e encefalite japonesa e se mostrou mais parecida com a da dengue tipo 1. “É a estrutura que revela a identidade desse vírus para o organismo humano”, afirma o diretor do Laboratório Nacional de Biociências, Kléber Franchini.
Além de ajudar a desenvolver ferramentas para diagnósticos mais rápidos e precisos, os estudos abrem novos caminhos para a criação de vacina e anticorpos contra o vírus da zika. “A importância dessa pesquisa é que com ela você pode desenvolver moléculas que possam interferir na ação do vírus no corpo humano”, explica o especialista.
O próximo passo é repassar essa informação para outras instituições que possam produzir insumos para a prevenção e tratamento da doença.
Mapeamento genético
Na semana passada, os especialistas da Fiocruz conseguiram, pela primeira vez, fazer o mapeamento genético do vírus da zika relacionado a casos de microcefalia. Foram coletadam amostras de líquido amniótico – que envolve o bebê na barriga da mãe. O material foi retirado de duas mulheres da Paraíba grávidas de bebês diagnosticados com microcefalia.
O líquido passou por um teste para identificar a presença de microrganismos. E o único vírus encontrado em grande quantidade foi o da zika. A coleta foi feita mais de dois meses depois que as gestantes tiveram os sintomas de zika. E os vírus continuavam ativos.
Os pesquisadores descobriram também que o vírus que infectou as gestantes na Paraíba é idêntico ao que circulou na Polinésia Francesa em 2013. Lá, foram registrados pelo menos 17 casos de microcefalia.
Notificação obrigatória
O Ministério da Saúde incluiu, na quinta-feira (18), o vírus da zika na lista nacional de doenças com notificação obrigatória. Isso significa que os profissionais de saúde das redes pública e particular são obrigados a informar às autoridades de saúde os casos de doença e morte pelo vírus da zika. A dengue e a chikungunya já estavam na relação.
G1