O novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, afirmou que trocará a equipe inteira de uma investigação em caso de vazamento ilegal de informações. “Cheirou vazamento de investigação por uma agente nosso, a equipe será trocada, toda. Não preciso ter prova. A Polícia Federal (PF) está sob nossa supervisão”, afirmou em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, na sexta feira.
Na entrevista, o ministro empossado na última quinta-feira nega ter intenção de influenciar na Operação Lava Jato, da qual a PF é parte central. O antecessor de Aragão, o atual advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, sempre foi criticado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por não “controlar a PF.”
De acordo com ele, o método com que as delações premiadas são negociadas na operação atual é uma “extorsão”. Além disso, minimizou as declarações de Lula em grampos telefônicos.
O ministro também disse que a presidente Dilma não fez nenhum pedido especial para sua gestão no ministério, mas apenas solicitou apoio. “Um dos problemas estratégicos é a questão do vazamento de informações, que alguns dizem que são seletivos. Não podemos tolerar seletividade. Há uma politização do procedimento judicial, seja por parte do juiz, seja por parte doa agentes públicos em torno.”, completou.
Reações – As declarações de Eugênio Aragão foram classificadas como uma “ameaça” por Carlos Miguel Sobral, presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF). “Isso demonstra duas coisas: vulnerabilidade da PF que não tem sua autonomia garantida na Constituição e na lei e outra que aparenta a pressa em acabar com a maior investigação de combate ao crime organizado da história do Brasil”, criticou Sobral à Folha.
“Nossa diretoria está discutindo medidas que podem ser adotadas diante das ameaças proferidas pelo ministro da Justiça”, completou Sobral, que garante que não há indícios de nenhuma ilegalidade cometida durante as investigações.
José Robalinho Cavalcanti, presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), também criticou as declarações de Aragão. “O ministro escorregou ou está fazendo um discurso político ao falar em extorsão. Não há extorsão alguma. Não há delação premiada sem voluntariedade no Brasil e nem na Lava Jato”, disse Robalinho.
“Com todo respeito, ao falar em extorsão, quem está tentando politizar a Lava Jato é o ministro da Lava Jato. Todas as delações foram tomadas com voluntariedade e analisadas por um Judiciário técnico e livre”, completou o presidente da ANPR.
Aragão, que era vice-procurador-geral eleitoral, foi escolhido na última segunda-feira como o novo ministro da Justiça. Ele substituiu Wellington César Lima e Silva, que deixou o cargo depois de o STF decidir que ele, como integrante do Ministério Público, não poderia acumular um cargo no Poder Executivo. Aragão também é dos quadros do MP, mas entrou na carreira antes de 1988, o que o livra da mesma restrição imposta ao antecessor.
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