A luta contra o mosquito Aedes aegypti, transmissor de doenças como dengue, zika e chikungunya, em breve terá um reforço vindo do Sertão nordestino. Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) descobriu que o extrato de sisal – considerado um subproduto – pode ser utilizado como bioinseticida. A vantagem é que o produto final é extremamente eficaz contra a larva do mosquito e inofensivo para pessoas e animais. Até o final do ano, os testes nos insetos adultos serão finalizados.
O projeto teve início em 2010, e foi financiado pelo Sindicato das Indústrias de Fibras Vegetais do Estado da Bahia (Sindifibras) e pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). “Na época, o principal desafio era estabilizar o suco de sisal. O efeito do resíduo sobre parasitas e algumas pragas já era conhecido, mas não era sistematizado”, disse Everaldo Vieira, pesquisador da Embrapa. Um estabilizante atóxico, utilizado na indústria alimentícia, aliado ao congelamento das amostras, foi capaz de evitar a fermentação. “Em seguida realizamos ensaios com lagartas e carrapatos, essa era a demanda naquele momento”, contou.
Daí, os pesquisadores começaram a tentar fazer com o suco de sisal, o que é feito com o leite: desidratar sem prejudicar a estabilidade nem desperdiçar as propriedades. “Avançamos na pesquisa e então vimos que o suco tinha efeito, mas queríamos reduzir e concentrar, e conseguimos sintetizar o produto em pó”, falou.
Em 2012, a Embrapa encaminhou a pesquisa para o Laboratório de Biotecnologia Aplicada a Parasitas e Vetores (Lapavet) da UFPB, Campus I, em João Pessoa, onde foram realizados os primeiros testes no Aedes aegypti. “Atualmente diversos estudos vêm mostrando o surgimento de resistência dos mosquitos aos inseticidas comumente utilizados. O bioinseticida desenvolvido aqui seria uma alternativa, além de ter uma baixa toxicidade para o homem e para o meio ambiente. Trata-se de um produto eficiente, de baixo custo e que agregaria valor à produção do sisal”, alega a coordenadora do projeto e doutora em Biotecnologia, Fabíola Nunes.
A maneira como o veneno opera no organismo da larva é agressiva e fatal. Fabíola explicou que foi necessário reduzir a concentração do veneno para conhecer o efeito no inseto antes da morte. “Chegamos à conclusão que o suco faz a necrose das células, destruindo o sistema digestivo. É como se o mosquito morresse de dentro para fora. É um processo muito agudo. O extrato do sisal tem compostos fenólicos, saponinas, e outras substâncias que são tóxicas para o mosquito”, explicou.
Jornal da Paraíba