Os bastidores da Operação Lava-Jato vão ganhar as telas do cinema ainda neste ano. Previsto para ser rodado em agosto e setembro em Brasília, Curitiba, Rio, São Paulo e São Luís, “Polícia Federal — A lei é para todos”, orçado em R$ 12 milhões, deve entrar em cartaz já em dezembro. Segundo o produtor Tomislav Blazic, até o momento nenhum dinheiro público foi investido na superprodução.
— Estamos trabalhando com recursos próprios e de patrocinadores — diz Blazic, que trabalhou em “Vestido pra casar” (2014).
Nesta entrevista, o diretor Marcelo Antunez, das comédias “Qualquer gato vira-lata 2” e “Até que a sorte nos separe 3”, ambas de 2015, garante que o thriller político, que conta com consultoria da própria PF, não vai ser “chapa-branca”.
Como se deu a aproximação com a PF?
Meses atrás, o produtor Tomislav Blazic foi até a polícia e estabeleceu um acordo para receber informações privilegiadas. Nada sigiloso, é claro, mas dados mais detalhados do que já saía na imprensa. A polícia não tem a tradição de ficar transmitindo informações, mas dessa vez tiveram interesse em torná-las públicas. Para o cinema, é algo maravilhoso.
Pode dar um exemplo?
Ainda é cedo para revelar muita coisa, mas temos detalhes de como se deram as operações que bateram na porta do Paulo Roberto Costa (ex-diretor de abastecimento da Petrobras) e do Lula.
Não teme que o seu filme seja parcial?
É claro que tivemos essa preocupação. Mas não será um filme institucional da PF. Teremos a liberdade criativa garantida a ponto de não ter que submeter nada à polícia, nem o roteiro, nem as ideias, nem o corte final. Isso está previsto oficialmente no acordo que firmamos.
Será necessário dramatizar situações ou a Lava-Jato é cinematográfica o suficiente?
É um filme de ficção fortemente baseado na realidade. Não estamos inventando os fatos da investigação. O que trazemos de ficção é o que normalmente se faz no cinema, como em “Spotlight”: pegamos os eventos e os intensificamos numa estrutura dramática, que necessita de conflitos e arcos pessoais.
O projeto é ambicioso porque prevê ainda duas continuações e uma série de TV. Mas o José Padilha já fará uma série sobre a Lava-Jato para a Netflix.
É inevitável, mas não há motivo para nos preocuparmos (com comparações). Confiamos no nosso produto e faremos a melhor história possível. Além disso, streaming e cinema são mercados diferentes. Há uma série de razões que distinguem os projetos.
Este será seu primeiro longa de drama. É um desafio?
Todo filme é um desafio, mesmo uma comédia. Há sempre a preocupação em fazer algo diferente e melhor. Neste caso, especificamente, trata-se de uma busca pessoal para me abrir a outros gêneros. Adoro fazer comédia, mas, acima de todo, quero contar boas histórias. E o gênero a que gosto mais de assistir é justamente o thriller político.
O Globo