A crise política no Brasil recebeu destaque nas edições impressa e digital do jornal americano “The New York Times” desta segunda-feira. A reportagem de capa intitulada “Como a teia da corrupção envolveu o Brasil”, cuja chamada ocupa quatro colunas na primeira página da publicação, aborda as revelações do senador Delcídio Amaral (sem partido – MS), que deixou a prisão em fevereiro após prestar depoimento à Polícia Federal em acordo de delação premiada. Em entrevista, Amaral disse que, quando foi preso, sentiu como se tivesse batido em um muro depois de uma perseguição em alta velocidade e afirmou que está fazendo sua parte “para ajudar a República”.
“Eu errei, então percebi que precisava de uma chance para fazer o certo. Você precisa ser pragmático”, disse Delcídio ao jornal.
Em sua delação, já homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o senador fala sobre o esquema de corrupção na Petrobras e em outros setores, envolvendo políticos tanto da base do governo quando da oposição. Segundo o “The New York Times”, as revelações de Delcídio têm acelerado a crise política “em que governantes assustados estão planejando abusos de poder, secretamente gravando uns aos outros e se preparando para o dia em que eles também estarão no lado errado de uma batida policial pela manhã”.
O jornal ressalta que 40 políticos, executivos e operadores já foram presos, que essa lista tende a crescer e que há suspeitas de envolvimento dos presidentes da Câmara e do Senado no esquema na Petrobras. A crise econômica também é abordada, principalmente do ponto de vista da perda de empregos.
“O duplo golpe da junção política e econômica tem devastado as ambições globais da maior nação da América Latina no pior momento possível: o Brasil está lidando simultaneamente com a epidemia de microcefalia relacionada ao mosquito transmissor do vírus zika e se preparando para receber os Jogos Olímpicos”, diz a publicação.
A reportagem, que compara a crise política ao seriado “Game of Thrones” em um dos intertítulos, também cita a conversa entre o ministro da Educação, Aloizio Mercandante, e Eduardo Marzagão, assessor de Delcídio, na qual o ministro se oferece para ajudar o parlamentar. Outro ponto considerado crítico pelo jornal são as gravações que envolvem Lula, como o diálogo em que o ex-presidente critica ministros do STF.
O “The New York Times” lembra da divulgação pelo juiz Sérgio Moro da conversa com Dilma Rousseff, na qual a presidente fala sobre o termo de posse do petista no Ministério da Casa Civil. O jornal americano aborda ainda o desembarque de aliados do governo Dilma, que enfrenta o processo de impeachment por ter realizado pedaladas fiscais.
O Globo