A queda do site da Agência Nacional das Telecomunicações (Anatel) ocorreu após uma série de ataques hacker, confirmou a agência nesta segunda-feira (25). Apesar de a página ter voltado ao ar, os ataques continuam nesta segunda, a ponto de dificultar a comunicações da agência via internet.
A página voltou a poder ser acessada no início da tarde da sexta-feira (22), mas a instabilidade do serviço ocorreu pelo menos desde quarta-feira (20). A interrupção do acesso à página da agência ocorreu enquanto o coletivo hacker Anonymous incitava ataques contra as principais operadoras do país em retaliação ao anúncio da adoção de franquias limitadas de dados em pacotes de internet fixa.
O Anonymous publicou nesta quinta-feira (21) no YouTube um vídeo declarando “guerra contra as operadoras”. Chamando a iniciativa de “#OpOperadoras”, o grupo incluiu no Pastebin, um fórum de discussão usado por hackers, um passo-a-passo de como realizar ataques de negação de serviço distribuída (DDoS, na sigla em inglês). Esse golpe consiste em direcionar o maior volume possível de acessos para um determinado serviço para que ele fique congestionado e não possa ser acessado.
“Este método é considerado por muitos de nós como uma forma de protesto, em outras palavras, é como se um monte de pessoas fossem em lojas das operadoras de telefones e impedindo o tráfego de pessoas nelas (sic)”, explica o Anonymous. O tutorial inclui não só instruções de como efetuar o ataque mas também as ferramentas necessárias que podem ser baixadas na internet. O grupo ainda lista alguns números de IPs (protocolos de internet que funcionam como endereços na rede) das principais operadoras do país.
A distribuição dessa cartilha pode não ter relação com a instabilidade do site da Anatel. O Anonymous, no entanto, afirmou nesta sexta-feira (23) ter hackeado a Anatel. “Vocês devem ter notado que o site da Anatel também ficou fora do ar por algum tempo devido à ataques de negação de serviço (DDoS)”, afirma o grupo em uma “mensagem à Anatel”.
Informações de um técnico de telecomunicações da agência, no entanto, dão conta de que o problema que tirou a página do órgão público do ar foi um DDoS. O ataque foi descrito por ele no fórum “Caiu”, destinado a trocas de informações sobre instabilidade de sites e mantido pelo Registro.br, responsável pela distribuição de domínios no Brasil.
Segundo o texto, desde a quarta-feira (20), o site da Anatel vem recebendo ondas de grandes volumes de acesso que “duram várias horas”. “A maior parte dos IPs de origem são internacionais, provavelmente alguma botnet contratada para isso”, sugere o técnico, que relata picos de tentativas de ac esso à página da ordem 40 Gigabits. O técnico confirmou ao G1 que o site caiu por volta das 12h da quinta.
Anatel e franquia de dados
Nesta semana, a Anatel interviu na polêmica da adoção das franquias de dados para planos de banda larga fixa. A agência proibiu qualquer restrição ao acesso de quem ultrapassar o limite de dados contratado nesses pacotes até que o Conselho da agência julgue a questão.
O presidente da Anatel, João Rezende, afirmou que impor que as empresas só ofereçam banda larga sem limite pode elevar o preço ou reduzir a qualidade do serviço.
“O discurso mais fácil para a Anatel seria colocar que a internet tem de ser ilimitada. Mas aí as empresas poderiam aumentar preços, reduzir a velocidade e isso terminaria prejudicando o consumidor. Temos também de pensar na sustentabilidade do setor”, disse ao G1.
Rezende disse que a internet fixa ilimitada como modelo de negócios não terminou, já que algumas empresas ainda podem adotar essa estratégia. No entanto, ele ponderou que, a longo prazo, pode haver dificuldade em sustentar esse tipo de serviço, já que a infraestrutura atual não comporta o uso irrestrito de banda larga por todos os usuários.
Limite é permitido
A imposição do limite de uso da internet fixa é permitido por regulamento do setor de 2001. A NET já vende planos de banda larga fixa nesses moldes desde 2004. Mesmo assim, o assunto virou polêmica depois de a Vivo anunciar, em fevereiro, que adotaria franquias nos novos contratos desse serviço. A Vivo adquiriu peso no setor de banda larga fixa depois de se fundir com a GTV, em 2014.
G1