Quatro adolescentes que participaram do caso de tortura a um adolescente de 14 anos em uma praia da Paraíba foram identificados pela polícia. Segundo o delegado da 7ª Delegacia, Ademir Fernandes, a identificação foi feita com a ajuda da própria vítima e dos dois suspeitos já detidos. Ao todo, seis pessoas tiveram envolvimento no caso em que um menino foi amarrado, enterrado até o pescoço e torturado na tarde desta quarta-feira (8), na Praia de Intermares, em Cabedelo, cidade da Grande João Pessoa.
Agora, a Polícia Civil está em busca dos adolescentes. “Além dese caso, temos agora uma informação de que isso acontecia antes. Esse fato de ontem vai proporcionar que a gente trabalhe em cima de fatos anteriores também. Agora temos materialidade para poder trabalhar”, disse.
O vídeo que mostra o adolescente sendo enterrado e torturado foi divulgado pela polícia. Na gravação, é possível ver o adolescente tendo as mãos e as pernas amarradas e sendo jogado no buraco. O adolescente chega a pedir socorro e afirma que está passando mal no vídeo, pedindo que os demais jovens parassem. Além de enterrarem o adolescente até o pescoço, um dos suspeitos urinou na cabeça da vítima e outro colocou um balde tapando a visão do menino. A filmagem foi divulgada na manhã desta quinta-feira (9) no Bom Dia Paraíba.
Os vídeos foram feitos pelo celular de um dos rapazes envolvidos, de 21 anos, que foi preso pela polícia em flagrante. Um outro adolescente, também de 14 anos, foi apreendido. O delegado Ademir Fernandes explicou o caso é enquadrado como tortura. O aparelho usado para filmar a agressão foi apreendido pela polícia e vai ser usado na investigação.
O pai do adolescente torturado, Zênio Silva, explicou que o filho frequenta a praia no horário da tarde para praticar surf. Ele contou em entrevista que sempre acompanhava o filho, mas que naquela tarde, precisou ir ao INSS e deixou que ele fosse sozinho. Zênio lamentou a situação e desabafou que poderia ter até agredido os rapazes que torturaram o seu filho se tivesse flagrado.
“Eu deixo ele na praia, ele fica surfando, e no final eu pego ele e levo pra casa. Como fui ao INSS, deixei ele ir sozinho e disse que ele ficasse me esperando. Até tomei um susto quando vi ele [o filho] chegando na viatura, pensei que algo tivesse acontecido com ele. Mas quando os policiais me mostraram o vídeo, já pensei em outra coisa. Se eu tivesse chegado na hora, eu não ia responder pelos meus atos. Foi um absurdo o que fizeram com o meu filho”, relatou o pai do adolescente.
O jovem que foi preso, Anderson José da Silva, explicou que, na verdade, aquilo foi uma brincadeira que é comum entre os jovens da região. “A brincadeira da gente sempre foi assim, acho que ele não aguentou a brincadeira”, disse Anderson. “Esses meninos são muito ‘gaiatos’. Sempre chegam no meu local de trabalho tirando onda como todo mundo, aí a gente vai e começa a brincar. Eu não sabia que ia dar nisso”, lamentou.
Durante os vídeos, é possível ouvir o menino gritando frases como “me ajuda”, “tá doendo” e “me solte, parceiro”. No fim, um dos integrantes o ajudou a sair do buraco, uma vez que ele não conseguia sozinho, conforme explicou o delegado. Depois que o menino conseguiu se livrar, ele correu para a avenida e encontrou uma equipe da Polícia Militar, que conseguiu prender Anderson e apreender um adolescente que participava do caso de tortura.
“Nós não encaramos como tentativa de homicídio porque dá para perceber que depois eles tentaram desenterrar. Não dá pra perceber a intenção de matar o menino. Mas eles assumiram o risco de que acontecesse uma tragédia. Felizmente, não aconteceu. Mas o terror que eles provocaram nessa criança é enorme”, comentou o delegado.
Segundo Fernandes, o adolescente vai passar por exame de corpo de delito, mas já adiantou que ele não teve ferimentos graves. “Foram só arranhões. A agressão psicológica é que foi maior”, explicou. Anderson vai ser apresentado na Audiência de Custódia e o adolescente apreendido à Promotoria de Cabedelo nesta quinta-feira (9).