No momento em que a disputa pela prefeitura da Capital ganhava tons inéditos de beligerância, a morte do coordenador do plano de governo da campanha de Sebastião Melo, Plínio Zalewski, cobriu de luto o segundo turno da eleição. O corpo de Zaleswki foi encontrado na tarde desta segunda-feira, na sede do PMDB, na Avenida João Pessoa. A polícia diz que o quadro é compatível com suicídio. Tão logo a morte foi confirmada, Melo e Nelson Marchezan Júnior (PSDB) suspenderam as atividades eleitorais por 24 horas.
A morte ocorre em um momento nevrálgico da campanha. O atentado a tiros ao comitê de Marchezan, na madrugada de segunda-feira, e a supostainvasão de integrantes da equipe tucana à sede do PMDB, no sábado, deram contornos violentos à reta final do segundo turno. A agressividade se refletia nos discursos dos dois candidatos e na Justiça Eleitoral, com pelo menos 10 ações ajuizadas pelos dois adversários — oito de autoria de Marchezan e duas de Melo.
No sábado, foi Zalewski quem abriu as portas da sede municipal do PMDB aos oficiais de Justiça. A ordem judicial foi expedida pelo juiz Roberto Carvalho Fraga, da 113ª Zona Eleitoral, para averiguar se o local abrigava um comitê. Segundo denúncia da equipe de Marchezan, o imóvel abrigaria atividades de campanha mas não estava relacionado na prestação de contas do candidato peemedebista. O PMDB nega as denúncias e ainda acusa um fotógrafo e uma advogada do PSDB de invadirem o prédio ilegalmente e vasculharem documentos. Na madrugada seguinte, dois ataques a tiros atingiram o comitê tucano, na Avenida Ipiranga. Pelo menos 10 disparos quebraram as vidraças do imóvel. Ninguém ficou ferido.
Os dois episódios foram o ápice da escalada virulenta que domina o segundo turno da eleição. Os ataques começaram tão logo a propaganda eleitoral foi retomada, com Melo e Marchezansubindo o volume das críticas no rádio e na TV. O peemedebista acusou Marchezan de falsificar sua ficha de filiação. O tucano reagiu taxando o adversário de “desleal” e “desesperado” diante da derrota iminente. Para o Ministério Público Eleitoral, a troca de agressões empobrece a campanha e penaliza o eleitor.
— É lamentável, porque não se discute a cidade. Os candidatos ficam buscando fatos da vida pessoal para denegrir a imagem um do outro. Quem perde é o eleitor — afirma o promotor Rodrigo Zílio, coordenador do Gabinete de Assessoramento Eleitoral.
Nas últimas semanas, o próprio Zalewski havia sido alvo de três queixas-crime da campanha de Marchezan. Numa delas, o Tribunal Regional Eleitoral determinou que postagem feita por ele na internet fosse retirada de uma rede social por ser ofensiva à honra do tucano. As duas queixas tramitando contra ele eram uma por dano moral e outra criminal, por injúria, calúnia e difamação.
Quem é quem na campanha de Melo
Coordenador geral
Antenor Ferrari, advogado
Ex-deputado estadual por três mandatos, foi presidente da Assembleia Legislativa em 1983. No governo Pedro Simon, ocupou a Secretaria da Saúde e Meio Ambiente.
Comunicação Social
Flávio Dutra, jornalista
Foi secretário de Comunicação do prefeito José Fortunati e superintendente de Comunicação da Assembleia Legislativa — deixou o cargo em agosto para atuar na campanha de Sebastião Melo.
Financeiro
João Carlos Bona Garcia, advogado e sociólogo
Juiz aposentado do Tribunal da Justiça Militar, ocupou a mesma função nas campanhas ao governo do Estado de José Fogaça e José Ivo Sartori
Plano de Governo
Plínio Zalewski
Era servidor da Assembleia Legislativa. Foi candidato a vereador em 2012 e coordenador do Observatório de Porto Alegre na gestão do prefeito José Fortunati. Em 2010, foi diretor de Governo da Secretaria de Governança da Capital.
Linha do tempo do acirramento da campanha
30/09- Dois dias antes da votação do primeiro turno, foram realizadas buscas na sede de uma empresa prestadora de serviços para a campanha de Nelson Marchezan Júnior (PSDB). Havia a suspeita de que no endereço estaria funcionando um comitê irregular de Marchezan e de uma candidata a vereadora, e sendo utilizados equipamentos da Procempa. No mesmo dia, o Ministério Público Eleitoral de Porto Alegre pediu arquivamento da denúncia. No parecer, o promotor de Justiça Rogério Roque Weiller afirma que não foram encontradas irregularidades nos computadores apreendidos no local.
11/10
– A retomada da propaganda eleitoral aumentou a virulência na disputa pela prefeitura de Porto Alegre. Derrotado no primeiro turno e em desvantagem nas pesquisas, Melo partiu para o confronto aberto com Marchezan. A campanha peemedebista acusou o adversário de falsificar sua ficha de filiação partidária, de demagogia e de representar uma coligação que mantém 280 cargos em comissão (CCs) na prefeitura.
15/10
– Uma averiguação judicial realizada no último sábado na sede municipal do PMDB causou desconforto entre as candidaturas de Melo e Marchezan. Integrantes da campanha do tucano teriam entrado de forma ilegal no diretório do partido, no Centro da Capital, durante a diligência. Conforme uma nota de repúdio divulgada no site de Melo, uma advogada e um fotógrafo também teriam feito imagens internas do local sem permissão.
– Plínio Zalewski foi quem recebeu a incursão de um oficial de Justiça na sede municipal do PMDB, na Rua Riachuelo, no bairro Centro Histórico. Segundo o auto de verificação da ação, o coordenador afirmou que o local “é destinado a instalação e funcionamento da assessoria de comunicação da Coligação Abraçando Porto Alegre.
– Pelo Facebook, Marchezan postou: “Descoberto comitê não declarado de Sebastião Melo. Mais uma vez, a velha política se mostra na eleição de Porto Alegre. A gente sabia que seria assim. (…) E o que não é declarado é pago com recursos que também não são declarados. Deixamos para vocês pensarem de onde vem esse dinheiro!”
17/10
– Na madrugada, o comitê de campanha de Marchezan, na Avenida Ipiranga, foi alvo de disparos. O local foi atingido por mais de 10 tiros em dois ataques. O primeiro ocorreu por volta de meia-noite e o outro, à 1h20min. Diversas janelas de vidro do segundo andar do prédio foram quebradas.
– Coordenador do plano de governo da campanha de Sebastião Melo, Plínio Zalewski foi encontrado morto na sede do partido, na Cidade Baixa. Zalewski era alvo de três queixas-crime impetradas pelo comitê de campanha de Marchezan. A Polícia trabalha com a hipótese de suicídio.