Após quase dez anos sob as águas represadas por Acauã, a antiga Pedro Velho, distrito da cidade de Aroeira, no Cariri, começou a reaparecer há dois anos: ruas, ruínas de casas e do antigo cemitério estão hoje à mostra, flagrante da grande seca que o Nordeste enfrenta há mais de cinco anos. Com a chegada das águas da nova barragem, a comunidade teve que ser realocada para outra área, deixando para trás a ‘velha Pedro Velho’. Mas a seca trouxe consigo lembranças de tempos em que o povoado tinha fartura de água de qualidade, bem diferente do cenário hoje, quando a pouca água existente não é de boa qualidade.
Ruínas são recordação
Ao lado do cruzeiro, único lugar da comunidade Pedro Velho que não foi submerso pelas águas da última cheia do Rio Paraíba, em 2004, o agricultor Euclides Paulino da Silva Filho, 37 anos, conhecido como Fabinho, relembra como era o povoado antes da inundação. Em Pedro Velho, zona rural de Aroeiras, no Cariri paraibano, aposentados e jovens lamentam a estiagem enfrentada há mais de cinco anos. Desde 2015, o antigo povoado ressurgiu das águas. As ruínas do lugar são uma recordação constante de uma vida de fartura, quando os ribeirinhos tinham água abundante e de qualidade, diferente de como vivem hoje.
Segundo eles, antes da construção da Barragem de Acauã, 900 famílias de ribeirinhos que vivam no lugar nunca haviam ficado sem água, como estão agora. Moradores contam ainda que o Sistema Adutor de Aroeiras, construído pelo Governo da Paraíba com recursos no valor de R$ 8 milhões provenientes do Ministério da Integração Nacional, abasteceu a comunidade rebatizada de Novo Pedro Velho, construída na parte mais alta da região, por poucos dias. A estação de tratamento desse sistema, que foi entregue em setembro de 2016, agora está totalmente depredada e serve para a ação de vândalos e traficantes.
“Água destruiu a nossa história”
O agricultor Euclides Paulino da Silva Filho, o Fabinho, mudou de profissão após a estiagem que chegou ao Novo Pedro Velho. Ele, que cavou um poço nas terras que tinha no antigo distrito, vive agora do abastecimento de água para cidades e comunidades vizinhas. Um carro-pipa de 10 mil litros de água para consumo chega a custar até R$ 100,00. Outro investimento foi o bar montado onde antes passava a água do Rio Paraíba. “As pessoas aqui não têm nenhum lazer, tive essa ideia e está dando certo. A principal necessidade aqui é água. Então eu aproveito o que sobrou no lençol freático pra fazer um pé de meia, já que todo o resto da nossa história foi destruído pela água que agora tanto faz falta”, disse Fabinho.
O agora empreendedor, pai de três filhos, anda nos caminhos da antiga Pedro Velho e mostra, entre as ruínas, onde ficava a igreja, a escola, o cemitério, a praça e até a casa de velhos amigos. “Eu nem gosto de passar por ali. Dá uma tristeza, uma sensação de abandono. Na verdade tudo aqui faz parte do passado, até a nova vila é uma coisa meio esquecida, parece que o tempo parou por aqui”, pontuou.
A respeito de novos projetos de abastecimento para o local, ou até mesmo a volta do funcionamento do Sistema Adutor do Cariri, a equipe de reportagem procurou a Secretaria de Recursos Hídricos, Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia do Estado. A assessoria de imprensa da pasta disse que todas as respostas seriam dadas pelo secretário João Azevedo, mas até o fechamento desta edição não fomos atendidos.
Contraste com o passado
Sentados em uma das calçadas da vila, agricultores da Nova Pedro Velho relembram o tempo de fartura que contrasta com a falta de perspectiva de hoje. De acordo com eles, as comunidades mais distantes das comportas da Barragem de Acauã ficaram prejudicadas. “Quem mora do outro lado do rio, pra o lado de Mogeiro, sabe bem que a água desceu rio abaixo por uns 20 dias, quando os doutores achavam que o ano ia ser de inverno, mas não foi”, disse Severino Basílio, 70 anos, morador de Pedro Velho.
Correio da Paraíba