A Paraíba pode estar vivenciado uma epidemia de esporotricose, uma micose transmitida por fungo a animais e humanos, podendo evoluir para a forma grave, mas que tem tratamento e cura. Já são mais de 160 casos de pessoas atendidas, em um ano, somente no ambulatório especializado do Hospital Universitário Lauro Wanderley.
Os dados que alertaram para uma possível emergência em saúde pública no Estado foram apresentados pelo médico e pesquisador da UFPB, Francisco Bernardino da Silva Neto. Ele explicou que os casos da doença começaram a aparecer em 2016. Em 2018, o HULW montou um ambulatório específico para o atendimento de pacientes com suspeita da doença. Segundo ele, somente em seu consultório (há mais dois médicos atendendo na unidade), foram acompanhados 165 pacientes, de janeiro a dezembro de 2018. “É um número expressivo. O que acontecia de forma esporádica virou um surto epidêmico”, disse ao grupo de trabalho.
O assunto foi discutido nesta terça-feira (26/02) pelo grupo de trabalho instalado pelo Ministério Público do Estado (MPPB) e Federal (MPF), com a participação de vários órgãos ligados à saúde de humanos e ao bem-estar animal.
Os membros do Ministério Público questionaram aos órgãos públicos (especialmente às secretarias de Saúde do Estado e Município de João Pessoa e ao MS) sobre as medidas tomadas para prevenir e combater a doença, algumas, inclusive, tratadas em reunião anterior e também sobre o que poderia ser feito daqui por diante, principalmente, em relação aos relatos de falta de medicamentos para pacientes e de ações contundentes em relação ao combate do fungo Sporothrix, que tem se proliferado no meio ambiente local.
Subnotificação e desconhecimento
Os representantes do MP identificaram, durante a reunião, falhas de comunicação que dificultam o combate efetivo da doença e o tratamento de humanos e animais, como, por exemplo, o fato de já existir uma resolução em nível estadual, que torna a esporotricose uma doença de notificação compulsória. A Secretaria de Saúde do Município também editou uma norma que torna a notificação da doença em animais também obrigatória. Mas, tanto os médicos dos serviços de saúde que atendem pessoas, quanto os médicos veterinários de clínicas e serviços públicos e privados não estão utilizando a ficha de notificação por desconhecimento.
A médica Maria Adelaide Millington, Secretária de Vigilância em Saúde do MS, esclareceu que, apesar da aquisição do medicamento Itraconazol ser uma obrigação das secretarias de Saúde municipais e estaduais, neste momento de surto (outros Estados estão passando pelo mesmo problema, a exemplo dos vizinhos Rio Grande do Norte e Pernambuco), o Ministério da Saúde está repassando diretamente aos hospitais que fizerem o pedido os medicamentos para o tratamento dos pacientes e estudando a possibilidade de tornar a notificação compulsória em nível nacional e criar um fluxo para o tratamento dos casos. Segundo ela, é importante que as secretarias de saúde se organizem para a aquisição do medicamento, de forma contínua.
A partir do que foi discutido, alguns encaminhamentos foram retomados e outros estabelecidos para frear a proliferação da doença e esclarecer a população sobre a importância de diagnosticar e aos médicos de notificar.
O que é a doença
De acordo com o MS, a esporotricose é uma micose subcutânea que surge quando o fungo do gênero Sporothrix entra no organismo, por meio de uma ferida na pele. A doença pode afetar tanto humanos quanto animais. A infecção ocorre, principalmente, pelo contato do fungo na pele ou mucosa por meio de trauma decorrente de acidentes com espinhos, palha ou lascas de madeira; contato com vegetais em decomposição e arranhadura ou mordedura de animais doentes. Em humanos, pode se manifestar de forma cutânea, linfocutânea, extracutânea e esporotricose disseminada, que acontece quando a doença se espalha para outros locais do organismo, com comprometimento de vários órgãos e/ou sistemas (pulmão, ossos, fígado).