Há quase quatro meses duas famílias de Catingueira, no Sertão paraibano, vivem uma dor redobrada. Primeiro por terem perdido os filhos em um grave acidente de trânsito, e depois por não terem a chance, até agora, de enterrarem os corpos.
“É uma dor sem tamanho. Apesar da tragédia já ter sido grande, pior ainda é não poder enterrar o seu filho. Isso é uma dor que cada dia acaba matando um pouco da gente”, relata Cleide Kalina, mãe de Cleiton Silva.
O acidente aconteceu na madrugada entre os dias 2 e 3 de dezembro de 2018. Gilbamar Gomes, Cleiton Silva, Eduardo Pereira e Diego David voltavam de uma festa, conforme explicaram as famílias da vítimas. Eles pegaram a BR-361, no Sertão do estado, e acabaram batendo em um caminhão. Duas motos que vinham atrás também bateram no carro, que pegou fogo. Os quatro jovens morreram na hora, carbonizados, mas apenas dois tiveram os corpos liberados pelo IML.
Corpos de jovens mortos em acidente, na PB, estão há quase 4 meses sem liberação do IPCBom Dia Paraíba00:00/04:37
“No dia 2 de abril fará quatro meses do acidente e nós não temos resposta para a liberação dos corpos. Nós não sabemos nem onde estão. Disseram que ia pra Recife, João Pessoa. Eles têm familiares, não são jogados não. Nós precisamos de uma resposta”, comenta Gerlânia Gomes, irmã de Gilbamar.
Segundo o chefe de setor de DNA do Instituto de Polícia Científica, Sérgio Lucena, os corpos serão identificados por exame de DNA, mas o laboratório de João Pessoa está em reforma e existe uma demanda de 50 corpos na frente pra serem avaliados.
“Os corpos foram periciados no Instituto Médico Legal de Patos. Foram retiradas amostras dos corpos e encaminhas aqui para João Pessoa, que é onde fica a sede do laboratório de DNA. Infelizmente por conta da interdição em março do ano passado. Esse laboratório precisou ser fechado para uma reforma que o IPC está sofrendo. A partir de janeiro deste ano nós fechamos uma parceria com o estado de Pernambuco e estamos processando alguns casos de DNA no laboratório de lá, mas estamos adotando o sistema de prioridade por antiguidade”, justifica Sérgio.
Veículo em que os jovens estavam quando sofreram o acidente. — Foto: Reprodução/TV Paraíba
A revolta da família é porque os dois corpos não foram identificados na hora do acidente e agora eles têm que conviver com essa dor da espera.
“Foi uma falta de responsabilidade porque no dia do acidente estavam todos separados e tinha como identificar os corpos. Meu irmão estava com uma corrente com um crucifixo, ele era o motorista e todo mundo viu ele lá. É uma dor triste. Vendo ele sendo carbonizado, viram o banco em que ele estava e sabiam quem era quem”, diz Gerlânia.
As duas famílias se juntaram para pedir ajuda, porque não aguentam mais viver esperando pela liberação dos corpos.
“Eu imploro, de coração, que possam fazer alguma coisa pelo meu filho. Eu não aguento mais esse sofrimento. Quase quatro meses de sofrimento. É uma dor que nem se mede, a que eu estou sentindo. Se dependesse da gente já teríamos resolvido, mas só depende deles”, afirma Cleide.
Segundo o IPC, não existe previsão de quando esses exames serão feitos. A reforma no laboratório deve ficar pronta nos próximos vinte dias, mas não se há uma data prevista.
Amigos e familiares dos jovens Gilbamar Gomes e Cleiton Silva — Foto: Reprodução/TV Paraíba