João Pessoa está no roteiro do projeto “Brasil sem Ponto Final”, patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, Ministério da Cultura e Governo Federal. O espetáculo de dança “Vertigem/Fio do Meio (ato nº 2)” , da Cia Gente, do Rio de Janeiro, estará no Teatro de Arena do Espaço Cultural nos próximos dias 28 e 29, às 16h, com entrada gratuita. O grupo carioca também vai ministrar uma oficina criativa no mesmo período, pela manhã, das 10h às 12h.
O espetáculo – escrito e dirigido pelo dramaturgo e antropólogo Paulo Emílio Azevedo e coordenado por Zuza Zapata Arte e Produção – é desenvolvido em dois atos, iniciando com “Fio do Meio”, vencedor do prêmio Funarte de Circulação em Dança, seguido de “Vertigem” que este ano representou o país no Festival D’avignon, na França. Unidos, eles formam o 2° ato do projeto “Brasil sem Ponto Final”, que contempla 11 cidades brasileiras, duas por região, além do Rio de Janeiro, cidade sede da Companhia. Do Nordeste, foram escolhidas as capitais João Pessoa e São Luís (MA).
O diretor explica que ao inscrever o projeto no edital, não teve dúvida de que incluiria a capital paraibana no roteiro. Além do seu pai ter nascido em João Pessoa, ele conta que teve as melhores impressões sobre a cidade. “Quando visitei João Pessoa, depois de descobrir que meu pai nasceu aí, me deparei com uma cidade que é uma capital, mas com uma energia muito familiar, do interior, um povo muito receptivo, caloroso, comunicativo, além de ser uma cidade belíssima. A expectativa, portanto, é a melhor possível porque a gente trabalha com uma equipe que também é muito receptiva e calorosa, então eu acho que a troca vai ser inevitável”, disse Paulo Emílio
Em “Fio do Meio”, explica o diretor, o criador toma como célula o movimento do esbarrão. A partir dele, observa e provoca uma via de mão dupla: a capacidade de mover corpos e, desse mover abrir espaços de conversação. Dando sequência a proposição de ativar a rua como espaço criativo, sua arquitetura e seu diálogo com as pessoas, “Fio do Meio” extrapola a noção de margem e reconfigura outras relações de geocorporeidade; reterritorializando os usos da cidade, os arteiros produzem repetições oriundas de gestos do urbano para difundir catatonias e narrativas que pleiteiam a visibilidade de tantos outros corpos; tantas das vezes negados, miopizados e varridos.
Já em “Vertigem”, adota-se um diálogo intenso e ininterrupto mediado pelos corpo dos intérpretes, cuja proposta expõe a borda, o ruído (também o silêncio), a corda bamba, a respiração ofegante e a embriaguez do gesto.
Desnudado e cru, “Vertigem” persegue uma “labirintite cênica”, sendo o movimento dessa vez guiado por uma atmosfera que não almeja o controle; ao contrário, despreza-o e o desloca em busca do risco, daquilo que ainda não tem nome; mas que por tal recebe, gentilmente, o significado de “política”. Em cena, um “corpo político que dança”, conceito criado e desenvolvido por Paulo, desde a década de 90.
Seja em “Fio do Meio” ou em “Vertigem”, a proposta é executada pela excelência dos intérpretes Pedro Brum, Zulu Gregório e Salasar Junior, com impecável assistência de Paula Lopes e competentes ações na direção técnica de Filipe Itagiba e na produção de Sérgio Chianca e Flávia Menezes que fazem uma dobradinha França-Brasil. No ato n°2, vale situar que a arte elabora distintos ecossistemas corporais, surgindo como fresta, a fim de que passem outras luzes com o intuito de se enxergar o que há do outro lado dos muros; e, sobre os muros, tomba-los.
Além das sessões do espetáculo, o projeto traz ainda uma preocupação pedagógica na troca de experiências e culturas com o público local. Por conta disso, está prevista a realização da oficina “Corpo-Memória”, ministrada pela professora Paula Lopes (São Luís/MA) e o professor Salasar Junior (João Pessoa/PB).