Rebeca Nepomuceno tem apenas 30 anos, mas sua trajetória profissional já percorreu um longo caminho. Fez faculdade, morou em outros países, abriu um atelier em João Pessoa e outro em São Paulo, vestiu Vitória Fiore, Maju Trindade, Carol Cola e Romana Novais, cunhada e esposa de Alok, respectivamente.
Tão jovem, Rebeca deixa marcada sua trajetória na Paraíba, estado onde nasceu, mas vai deixando rastros por onde passa, sem esquecer suas raízes e levando um pouco da sua terra pelos caminhos.
Ponto de partida
Desde criança, Rebeca nutria um desejo de ser estilista. Conseguia se enxergar trabalhando com moda e via na mãe uma inspiração. Cresceu entre tecidos e costuras.
Entrou na faculdade com 17 anos, sem dúvida sobre o que queria cursar: design de moda, em João Pessoa. “Foi maravilhoso para mim. Eu acho que me gerou bons laços, inclusive com a minha terra. Me formei e logo em seguida eu comecei a trabalhar. Foi totalmente espontâneo”, conta Rebeca.
Assim que se formou, por indicação de pessoas conhecidas, Rebeca foi chamada para fazer o vestido de quem seria, hoje, a sua melhor amiga. “Tinha acabado de me formar, eu não tinha nada, eu só tinha um sonho”, brinca. Com a cliente dentro do carro, foram as duas em busca de tecido. Um trabalho rápido, categorizado por Rebeca como amador, mas que proporcionou o primeiro passo para uma carreira de sucesso.
Ateliê em João Pessoa
Como primeiro vestido fazendo sucesso nas redes sociais, mesmo em uma época em que os perfis ainda não monetizavam tanto assim, Rebeca aproveitou o momento para atender a demanda espontânea de clientes que chegava até ela. Em um ambiente improvisado, na parte de cima da loja da mãe, ela atendia, criava e formava o que seria um dos principais ateliês de vestidos em João Pessoa.
Designer de noivas
Embora tenha começado com vestidos de festas, foi com a produção e criação de noivas que Rebeca encontrou seu espaço mais fiel. Nos primeiros anos de profissão, no entanto, com o mercado muito saturado e com um padrão estabelecido, Rebeca decidiu tomar algumas decisões.
“Eu tenho essa filosofia de vida, o não é tão importante quanto o sim. Então nessa época existia um padrão de noiva muito bem estabelecido, no mercado de festa também. Era muita renda aplicada no tule e aquilo não fazia sentido para o meu estímulo pessoal. Era muito romântico, eu nunca fui romântica. Então eu tomei uma decisão. No auge dos meus 19 anos eu tomei uma decisão: eu não vou trabalhar com renda”, explica Rebeca Nepomuceno.
Com a decisão arriscada, mas firme para manter sua personalidade profissional, o mercado de noivas de João Pessoa se fechou para ela. Fez algumas noivas, mas seguiu produzindo os vestidos de festa que não pediam tanto um design romântico.
Aos 22 anos, em meio a um cenário ainda volátil sobre que linha iria seguir, Rebeca fechou o ateliê e desembarcou na Austrália para um curso sobre negócios de moda. “Eu ia passar um ano e meio, e acabei passando três. Foi com certeza a virada de chave da minha vida pessoal e profissional. Me descobri como mulher, como pessoa. E na parte das noivas também. Lá eles têm um lifestyle muito parecido com o que eu gosto. Eu voltei muito inspirada a trabalhar com esse tipo de mulher que teve uma visão do casamento mais desconstruída”, relata.
Em 2019, em João Pessoa, Rebeca reabriu o ateliê definitivamente. Foi nesse momento que o mercado de noivas entrou na sua vida de forma mais consolidada e estratégica, voltando todos os olhares de produção, mas também de marketing, para as noivas.
Processo de produção e criação
Rebeca participa de toda parte criativa de um vestido de noiva. Mas uma equipe completa dá vida ao vestido.
“Na produção eu participo de absolutamente tudo relacionado a tomada de decisões, de ajustes, naturalmente do design também, aprovação de bordados e tudo mais, mas eu tenho uma equipe muito boa”, detalha Rebeca.
E para que a valsa seja perfeita, Rebeca dedica o tempo certo para cada momento e cliente.
“Quando a cliente busca algo sob medida, para fazer um vestido exclusivo, do zero, é comigo. Eu faço o primeiro contato com elas através de uma videochamada, com clientes do Brasil inteiro. Faço isso para me conectar com a cliente, com esse público, com o perfil dela. E aí a gente tem um segundo encontro, comigo também, que é a apresentação desse croquis que eu vou criar com base no que conversamos. Eu tento muitas vezes fazer de maneira presencial, eu acho uma experiência super legal quando elas podem”, explica.
Daí em diante, todo o processo é liderado pela equipe de Rebeca Nepomuceno, que também é cabeça pensante da gestão empresarial. Ela participa de algumas provas do vestido, dá as coordenadas que precisa e acompanha a produção.
No entanto, se a cliente desejar um vestido da coleção já existente, todo o contato é feito com a equipe, sem a participação de Rebeca, já que apenas alguns ajustes deverão ser realizados.
Atualmente, o ateliê Rebeca Nepomuceno é composto por 13 pessoas, em João Pessoa e São Paulo, e conta com uma estética bem característica.
Inspiração
O que hoje inspira Rebeca a manter uma produção própria e inédita é a capacidade criativa do ateliê. “Todas essas pessoas são pessoas muito criativas, eu tive muita sorte nesse aspecto, eu tive muita sorte de ter pessoas extremamente capazes”, frisa. “Hoje eu busco muita inspiração dentro daquilo que a gente já faz”.
Ela agradece fortemente às mulheres que fazem parte do seu dia a dia: “Luanna, Júlia, Andresa, Luciana, Amanda, Verônica, Paloma, Gabrielle, Miriam, Maristela, Claudilene e Dulcineide”, cita.
Do próprio vestido de noiva ao Baile da Vogue
Depois que entrou no mercado de noivas, Rebeca cresceu. Foi como se realmente tivesse encontrado seu caminho. As peças finalmente se encaixavam.
Do próprio vestido de noiva a uma luxuosa peça pro Baile da Vogue, Rebeca vestiu famosas e influenciadoras, fazendo seu nome correr em todo o Brasil e até em outros países.
A influenciadora Vitória Fiore vestiu um traje de mais de 8 quilos pensado por Rebeca Nepomuceno e executado por toda sua equipe. “Foi o vestido mais difícil que a gente já fez, no sentido de complexidade, mas não foi difícil para a gente executar. Foi um divisor de águas para a gente”, descreve a designer.
Em 2021, Rebeca relembra que vestiu a primeira influenciadora, Renata Mines, que mora na Austrália e fez todo o contato online com Rebeca para a criaçao do vestido das bodas de casamento. “Foi quando a gente começou a ficar mais conhecido fora de João Pessoa, porque ela tem um público bem internacional e nacionalmente conhecido”, relata. Nessa época, Rebeca chegou a fazer vestidos para o Japão, Itália, tudo à distância.
Nessa lista ainda estão as irmãs Alcântara, projeto que durou cerca de dois anos de elaboração e execução.
Mas Rebeca considera que duas das pessoas mais especiais que vestiu foi Carol Cola e Romana, cunhada e esposa de Alok, respectivamente. “A gente se conectou muito, acabei indo para o casamento dela (de Carol), na Tailândia. Todas as pessoas maravilhosas, não tenho palavras para descrever o quão especial eles foram comigo. Foi um projeto completamente colaborativo. Vestir a família toda foi algo bem marcante”, descreve Rebeca.
Recentemente, a influenciadora Maju Trindade publicou nas redes sociais um pouco do vestido de noiva criado por Rebeca Nepomuceno.
“Hoje em dia a coisa que a gente mais usa de referência é textura. E quando eu digo texturas, é realmente a criação de padronagens autorais, através de bordados, através de técnicas manuais. Então, acho que esse é um lugar onde o ateliê consegue diferenciar a sua essência mais pura, como no vestido de Maju. A gente fez o tecido todo do zero. O vestido é todo feito em um tecido só”, explica.
Todo o vestido de Maju Trindade foi feito com texturas de um mesmo tecido, aplicando técnicas artesanais para dar volume, acabamento e personalidade.
Com G1