O fato e a foto são, efetivamente, surpreendentes na atual campanha e na história política de João Pessoa. De repente, os três principais candidatos a prefeito por partidos de oposição – Ruy Carneiro (Podemos), Luciano Cartaxo (PT) e Marcelo Queiroga (PL) – aparecem unidos numa coletiva de imprensa. Nunca ocorreu algo semelhante.
O mote do evento até se configura relevante: denunciar a ação do crime organizado na campanha eleitoral, impedindo a entrada de candidatos nas comunidades, e a formulação ao TRE-PB de requisição de tropas federais para garantir a segurança da campanha e do pleito na Capital.
A iniciativa, no entanto, toma um desvio quando enviesa a denúncia de suposta ação política de facções do crime organizado diretamente para a campanha do prefeito Cícero Lucena. Não tem jeito; o evento da unidade dos candidatos acaba ganhando conotação eleitoral.
Além disso, a Operação Mandacaru da Polícia Federal, que investiga a possível influência de facções na nomeação de servidores na Secretaria de Saúde e cumpriu mandado de busca e apreensão na casa da filha do prefeito (então secretária), ainda não autoriza a associação da gestão com o crime organizado na Capital.
O problema é que, por mais relevante que a denúncia seja, a junção, em meio à campanha, de candidatos bolsonarista, petista e outro sem rótulo soa estranho e pertinentemente gera especulações.
Por que cada um, individualmente, não faz a denúncia e tenta tirar proveito para se credenciar a um possível segundo turno? Não seria mais lógico do que se juntar e dividir forças?
Argumenta-se que, na verdade, se a ação conjunta pode atrapalhar a individualidade das campanhas, a união teria sua força para desgastar a imagem do prefeito Cícero Lucena com o propósito maior de provocar um segundo turno nas eleições de João Pessoa.
Neste ponto, faz sentido a especulação de que a repentina unidade dos candidatos de oposição teria sido impulsionada pela informação de que o instituto Quaest, contratado pela Rede Globo para divulgação pela TV Cabo Branco, estaria em campo aplicando entrevistas da segunda pesquisa de intenção de voto na Capital paraibana. Pela data do pedido de registro, os números estariam liberados para divulgação nesta sexta-feira (13/09). Uma denúncia em meio à coleta de dados poderia influenciar o apurado final. É a teoria.
A questão é que, por outro lado, essa operação também estaria revelando a fragilidade dos candidatos de oposição em João Pessoa. Se, com todas as diferenças, eles aceitam se unir para, conjuntamente, atacar o candidato Cícero Lucena com o intuito de provocar o segundo turno, é porque reconhecem um quadro desvantajoso para todos.
Como partidos do porte dos candidatos enfileirados no evento desta quarta-feira realizam pesquisas regularmente, as duas últimas especulações ganham, então, todos os encaixes de razoabilidade.